EDITORIAL

                                                   AIDS: um pouco de história, números e avanços no Brasil.

A síndrome da imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) é uma infeção causada pelo vírus da imunodeficiência adquirida (VIH/HIV), que desde sua descoberta no início da década de 80, ainda continua sendo um problema de saúde pública mundial, já tendo levado a morte aproximadamente 40 milhões de pessoas 1.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 1,5 milhão de pessoas adquiriram o vírus HIV, o equivalente a 4 mil novos casos  diariamente, além disso, 650 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao vírus em 2021,  isso equivale a mais de 4 mil novos casos todos os dias1.

Ainda segundo dados da OMS, no final de 2021, foi estimado que mais de 38 milhões de pessoas conviviam com o vírus HIV no mundo, sendo 1,7 milhão são crianças com menos de 15 anos de idade. Cerca de dois terços do total de pessoas que vivem com o HIV residem em países da África1.

A AIDS teve início nos primórdios da década de 80 quando grande número de homens, residentes nos Estados Unidos da América (EUA) começaram a apresentar quadros clínicos bem semelhantes, marcados por doenças resultantes do comprometimento do sistema imunológico, como sintomas respiratórios causados por pneumonia por Pneumocystis carinii e pelo aparecimento de sarcoma de Kaposi, casos similares aos apresentados nos EUA passaram a ocorrer em outras localidades como no Haiti e na África Central, em um grupo de indivíduos aparentemente restrito, composto por hemofílicos, homossexuais, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo 2.

Em 1983, pesquisadores isolaram o vírus HIV-1 em amostras de sangue de pessoas doentes, o que representava o início de uma nova patologia, ainda desconhecida, transmissível e infeciosa. Para o agente etiológico causador da nova doença foi recomendado o uso da nomenclatura “human immunodeficiency virus”, ou “vírus da imunodeficiência humana”, e a doença passou a ser conhecida como a síndrome da imunodeficiência adquirida (“sida”, na sigla em português, ou “aids”, em inglês). Após três anos da descoberta da AIDS, 1986, foi identificado um novo agente etiológico, com características semelhantes ao HIV-1, que foi chamado de HIV1,2.

 Desde o surgimento da AIDS, felizmente já se passaram quase 40 anos de pesquisas, com imensos avanços no entendimento da classificação do vírus (HIV-1 e HIV-2), da patogênese da infecção (especialmente para HIV-1) e no tratamento com o desenvolvimento de mais de 20 tipos de fármacos eficazes no controle da doença e, consequente, diminuição dos sintomas e aumento da expectativa de vida dos pacientes3,4.

Como já foi dito, apesar dos primeiros casos da doença terem ocorrido nos Estados Unidos, com o passar dos anos, o maior contingente de casos registrados, foram em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, de 2007 até junho de 2021, foram notificados cerca de 382 mil casos de infecções pelo vírus HIV. No ano de 2020, foram diagnosticados 32.701 novos casos, com uma taxa de detecção de 14,1/100 mil habitantes, totalizando, no período de 1980 a junho de 2021, 1.045.355 casos de aids detectados no país5.

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil de 2007 até junho de 2021, ocorreram 342.459 casos de infecção pelo HIV, com maior concentração dos números nas regiões Sudeste e Sul, o que corresponde respectivamente, 50,6% e 19,8% do total de registros; sendo 5.106 (16,5%) na região Nordeste, 30.943 (9%) na região Norte, e 25.966 (6,2%) na região Centro-Oeste5.

Desde o ano de 2012, o Brasil tem avançado nas políticas públicas de combate a AIDS, o que pode ser observado por um decréscimo de 35,7% nas taxas de detecção da doença, que passou de 22,0/100 mil habitantes (2012) para 14,1/100 mil habitantes em 2020. Também temos hoje, entre os países de baixa e média renda, uma das maiores taxas de cobertura do tratamento antirretroviral (TARV) distribuídos gratuitamente na rede pública de saúde5.

Atualmente, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Dessas, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmite o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável6 .

Apesar de todos os avanços alcançados no decorrer dos anos, a AIDS ainda é um desafio no Brasil e no mundo e merece atenção por parte das autoridades mundiais, principalmente no tange as desigualdades que ainda perpetuam com relação a AIDS no mundo, portanto segundo a UNAIDS, em 2022 no Dia Mundial da AIDS, celebrado em 1º de dezembro, o UNAIDS propõe o tema “Equidade já” a luta contra às desigualdades que estão impedindo o progresso na erradicação da AIDS. Entre as ações propostas estão 6:

  • Aumentar a cobertura para tratamento, testagem e prevenção do HIV, garantindo acesso a todas as pessoas.
  • Reformar leis, políticas e práticas para superar o estigma e a discriminação experimentados pelas pessoas que vivem com HIV e AIDS e das principais populações marginalizadas, para que todas as pessoas sejam respeitadas e atendidas de forma correta e respeitosa.
  • Assegurar o compartilhamento de tecnologias para possibilitar o acesso equitativo das comunidades e diferentes regiões de países desenvolvidos, e de baixa e média renda ao melhor da ciência relacionada ao HIV.

Referencias

  1. Brasil. Instituto Nacional do Seguro Social. Resolução INSS/DC nº 089, de 5 de abril de 2002. Aprova a norma técnica de avaliação da incapacidade laborativa para fins de benefícios previdenciários em HIV/aids [Internet].Genebra: International Labour Organization; 2002 [acesso 28 maio 2019]. Disponível: https://bit.ly/3aUslD7
  2. Brasil. Ministério da Saúde. História da aids [Internet]. 2018 [acesso 28 de novembro 2022]. Disponível: https://bit.ly/331E4LZ
  3. MONTANER, Julio et al. Association of highly active antiretroviral therapy coverage, population viral load, and yearly new HIV diagnoses in British Columbia, Canada: a population-based study. The Lancet, [s.i], v. 376, n. 0, p.532-539, ago. 2010.
  4. PIOT, Peter; QUINN, Thomas C. Response to the AIDS Pandemic — A Global Health Model. The new England Journal of Medicine, England, v. 368, n. 23, p.2-3, ago. 2013.
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS 2021. Secretaria de Vigilância em Saúde |Número Especial | Dez. 2021. [Internet].[acesso 28 de novembro 2022].Disponível em:https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-deconteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2021/boletim-epidemiologico-especial-hiv-aids-2021.pdf
  6. UNAIDS. Dia Mundial da AIDS 2022: Equidade Já. 2022. Disponível em:https://unaids.org.br/2022/10/dia-mundial-da-aids-2022/. Acesso em: 28 de novembro de 2022.

Valéria Aparecida Masson

✓ Bacharel e Licenciada em Enfermagem pela Unicamp.

✓ Doutora e Mestre em ciências da Saúde pela Unicamp.

✓ Estomaterapeuta pela Unicamp.

✓ Sócio fundadora da clínica dermatológica Leviva.

✓ Docente de graduação na área da saúde e pós-graduação em Enfermagem em

Dermatologia.